O violino calou. Vieram o silêncio e o vazio.
Hoje, 10 de agosto, 106.000 mortos no Brasil. Tento entender este número. É mentalmente sem representatividade Tento enfileirá-los em minha mente. Não consigo. Preciso entender esta quantidade. Por que são vidas 1, 2, 3, 4, 5, 6. Quantas linhas eu utilizaria até chegar aos mais de 100.000? Talvez por isso que alguns jornalistas falem “são x aviões que teriam caído”, “x acidentes de trens”. É uma tentativa desse número ter uma representação em nossas mentes, em nossas vidas.
Estatística sempre me causou certa inquietação, já que uma pessoa que morre é 100%. Se você morre é 100% e muitas vezes quem morre leva consigo, de alguma forma, outras vidas. Precisamos tentar entender o inexplicável, mas como? Não se pode esquecer. Lembro-me das inúmeras covas para enterrar os mortos em Belém, primeira cidade gravemente afetada pelo vírus. Não havia leitos ou respiradores suficientes. O Brasil teve tempo. Houve muita omissão, desgoverno e desamparo.
A boca se cala, o corpo não se mexe diante de tamanho desamparo da população. O tempo vai passando e o descaso com a população é estarrecedor. Desgovernos e desamparo. Desmundo.
Aos que conseguem manter-se na condição de humanos segue-se uma vida estranha, repleta de medos, angústias, restrições e perdas. Há muita mudança. É um novo que precisa nascer do trágico.

Grupo de moradores de rua da cidade de São Paulo