Estranhas Horas
Estranhas Horas

E, de repente, o mundo ficou em suspenso. A maior parte das pessoas ficou recolhida em suas casas.

Coisas estranhas começaram a acontecer, como foi o caso do dia em que não se sabia que dia era. Por mais que houvesse esforço, não vinha à cabeça. Então pensou-se primeiro no ano no qual se estava. Também não vinha… taquicardia. Quem esquece o ano em que se está? Com muito esforço apareceu 2020 e foi mais estranho ainda. Já? Não é possível que se esteja em 2020! Deve haver um erro. E, como se estivesse em 1950, não foi possível pensar em olhar o celular para descobrir a data. Ele não existia. Foi difícil achar a data, alguém lembrou. Foi preciso comprar com urgência um calendário de mesa.

2020, 2020. Vai-se caminhando do jeito que é possível, cada um com suas dificuldades e facilidades. Mas… assim como o tempo, os relógios começaram a perder sua função. Foram se extinguindo: dois tiveram suas baterias findadas, outro foi perdido, outro derrubado de forma a tornar-se sem vidro e sem proteção de bateria. Ao ter seu vidro recolocado, provisoriamente, o ponteiro de segundos ficou atravessado no relógio, impossibilitando os demais a andarem. Os segundos seguraram as horas. Havia ainda um, digital, que apesar de ter sido derrubado brutalmente e ter o vidro quebrado, continuava a funcionar. Quinze dias foi o tempo necessário para seus números se apagarem. Estranho… como se o tempo tivesse parado… havia chegado no limite… agora precisariam ser consertados para que a vida pudesse seguir com menos aflição.

Rever os tempos foi necessário. Angústias apareceram, pois o tempo que estava na rua foi para casa. O tempo usado para muitas coisas externas entrou nas casas. Passou a ser tempo que excede nas residências, como neblina que cega na estrada.