Adolescência na Pandemia
Adolescência na Pandemia

Acompanhei uma adolescente neste tempo de pandemia. Ansiosa desde sempre, muito produtiva, seguiu desta mesma forma no primeiro ano da pandemia. A ansiedade lhe rendeu boas ideias, boas leituras, excelentes trabalhos na escola e planos para o futuro: “quando tudo passar”. Dizia ela: “por favor, me deixem sonhar”. Iniciou seus exercícios físicos de forma online e não se esqueceu de tomar sol, todos os dias, em seu quarto.

Os meses foram passando e os exercícios físicos cessaram. Ela migrou para a culinária e passou a produzir excelentes pães de fermentação natural. Fazia crescer os pães, bem como a produção escolar.

Admirada por sua persistência e criatividade, em 2021, chegou o cansaço. A cadeira começou a incomodar, “as costas doem”, dizia ela, deitando-se na cama.

Começou a dormir durante o dia, fato que nunca aconteceu. Ela sempre dizia: “dormir é perda de tempo, há tanta coisa interessante no mundo para fazer!”

Sua ansiedade aumentou e sua produtividade diminuiu. Sentia falta dos amigos e, como agravante, era seu último ano do Ensino Médio. Não veria mais seus amigos como antes: não frequentaria mais a escola, que lhe era tão valiosa; não pegaria mais o ônibus que vinha repleto de jovens rindo e conversando. Ela guarda uma linda foto de um desses momentos. Além disso, teria um vestibular pela frente. Foi demais e ela envergou: passou a dormir muito, sentia-se cansada, com taquicardia. A Psicanálise já existia em sua vida; vieram, então, os medicamentos e seus efeitos colaterais.

Seus olhos, antes vivazes, e seu sorriso frequente diminuíram e se tornaram tristes. Perdeu o interesse pelos estudos e cozinha apenas esporadicamente.

Num gesto de abertura, começou a ver poucos amigos, em ambientes abertos, usando, assim como os demais, máscara de proteção máxima e álcool em gel. Na comemoração de aniversário de um deles, seis amigos se encontraram numa praça num dia muito frio e cinzento em São Paulo. Ela fez mini bolos para levar. Por traz das máscaras, diversos olhos melancólicos posaram, para sua recordação, numa selfie que chora por si mesma.

Quanto ao futuro? Quem sabe?

 

PS. Este é um relato de uma jovem. Tantos e tantos e tantos outros poderiam ser escritos, cada um com sua peculiaridade, brutalidade real e delicadeza subjetiva.